¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, julho 16, 2014
 
RECÓRTER CALA


Comentei há pouco as reivindicações dos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) mas com smartphone, que estão invadindo prédios em bairros nobres da cidade, exigindo o direito de morar junto aos ricos sem pagar um vintém. Uma pessoa leva uma vida para juntar um patrimônio e conseguir viver bem. Estes senhores acham ser possível pular da miséria para o luxo sem trabalho algum.

Falei também do líder do movimento, Guilherme Boulos, que de sem-teto nada tem, aventureiro oriundo da Fefelech - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – que se diz professor de psicanálise. Mas a meta de Boulos não é exatamente teto para os sem-teto. E sim a revolução socialista. Qual revolução socialista?

De seu artigo escrito ontem na Folha de São Paulo, deduzimos que é aquela de 1917, que de início se chamou comunista, e que estertorou em 1989, com a queda do Muro. Escreve o jovem stalinista, a propósito da morte de Plínio Arruda Sampaio:

“Figurou nessa lista ao lado de gente como Luiz Carlos Prestes, Francisco Julião (dirigente das Ligas Camponesas) e do próprio Jango, dentre outros grandes nomes que defenderam os interesses populares contra o golpe militar”.

Ou seja, o marxismo de Boulos não é apenas pré-64. É pré-35. Data do auge do stalinismo, quando o Paizinho dos Povos queria pôr uma pata na América Latina. Só mesmo no Brasil para um espécime como este ganhar coluna na grande imprensa.

Não bastasse pretender um revival da tomada do Palácio de Inverno, as reivindicações dos sem-teto são múltiplas. Hoje de manhã, com uma manifestação contra operadoras de telefonia móvel, bloquearam várias vias na região da Vila Olímpia, na zona oeste de São Paulo. Em nota, o movimento informou que lutava contra “os abusos das operadoras de telefonia celular no país”. Mais um pouco e o MTST estará reivindicando televisores.

Nada como um dia depois do outro. Ainda há pouco, Reinaldo Azevedo desfechava suas baterias contra o “coxinha extremista”:

“Guilherme Boulos, aquele coxinha extremista, oriundo de família rica, mas que decidiu fazer a revolução em lugar dos pobres e se transformou no queridinho dos engajados, reuniu nesta quinta 15 mil pessoas, segundo a PM, num protesto na Zona Oeste de São Paulo em favor de moradia. Ele é o chefão do MTST, o dito Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. Bloquearam avenidas, causaram um congestionamento dos diabos, infernizaram a vida das pessoas. Mas a imprensa diz que a manifestação foi “pacífica”. Por enquanto ao menos. Boulos já deixou claro que, se o poder público não ceder às suas chantagens, vai correr sangue”.

Hoje, o recórter tucanopapista de Veja e o coxinha extremista assinam coluna no mesmo jornal. Ontem, Boulos fez a defesa do marxismo mais obsoleto que ainda persiste em alguns bestuntos tupiniquins, o que seria um prato feito para o recórter.

Sempre rápido no gatilho, o recórter manteve um silêncio obsequioso. Quando o guardião da democracia voltará a lançar diatribes contra o stalinista incendiário? Voltará a chamá-lo de coxinha extremista? Calou-se o valente? Pelo jeito, Boulos ganhou, senão um aliado, pelo menos um conivente.