¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

domingo, agosto 03, 2014
 
TUCANO AVALIZA BISPO BILIONÁRIO
E IMPRENSA CALA E LOUVA TEMPLO



A presença do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi o escudo que protegeu Dona Dilma da artilharia da imprensa contra o PT. Não havia como condenar a presidente por prestigiar um vigarista notório quando um grão-tucano sentava a seu lado, dando com sua presença o aval ao suntuoso templo construído com a exploração da fé dos simples. Ou alguém alguém acha que um pregador de rua constrói em menos de 40 anos um patrimônio de quase dois bilhões de dólares vendendo vento?

Leiamos o que indômito recórter de Veja, Reinaldo Azevedo, escrevia em 07 de maior de 2012 sobre o bispo Macedo:

Quem frauda a Bíblia frauda os fatos

Caso se reconstitua a trajetória de Macedo e se tente entender como amealhou recursos para se tornar empresário de comunicação, vai-se concluir o óbvio: o dinheiro, originalmente, saiu da igreja, da doção feita pelos fiéis. Problema: trata-se de uma atividade não-tributada constituindo fundos para organizar uma empresa privada. Ainda hoje, boa parte da receita da emissora sai dos cofres da Universal. Como a simples transferência de recursos é proibida, usa-se um artifício: a Igreja “compra” tempo na Record e paga por ele um preço que ninguém mais pagaria.

Macedo impõe ao jornalismo o mesmo padrão e rigor teórico com que leva adiante em sua teologia. Este é aquele senhor que recorre a uma passagem do Eclesiastes para justificar o aborto, por exemplo. Também é aquele líder religioso que aparece num vídeo, com um chicote na mão, para expulsar o demônio do corpo de um homossexual. Se faz isso com a religião, por que faria diferente no jornalismo? “Ah, o Reinaldo está recorrendo a coisas que não têm nada a ver com o caso…” Ah, tem, sim! Quando se evoca o Eclesiastes para justificar o aborto, estamos diante de uma fraude teológica! Quando se recorre ao chicote contra um homossexual para que ele mude sua orientação, estamos diante de uma fraude em qualquer sentido que se queira: psicológica, religiosa, ética. Quando se leva ao ar aquela montagem asquerosa tentando incriminar o jornalista da VEJA — que só fazia o seu trabalho —, estamos diante de uma fraude jornalística. Porque a tudo isso preside o mesmo padrão moral.

Tudo seria mais simples se Alckmin se abstivesse de puxar o saco do bispo. Agora, com a presença de seu guru tucano ao lado de Dilma e de Edir Macedo, o campeão da imprensa livre não profere nem sequer uma palavrinha desabonatória contra o bispo ou a presidente que, além de aplaudi-lo, teve de suportar arengas de quase três horas contra as drogas e a favor do neojudaismo inaugurado pelo Sumo Sacerdote da IURD. Votos têm seu preço.

Mas vá lá. O silêncio do recórter tucanopapista era mais que previsível. Engoliu bonitinho o apoio de Alckmin ao empresário fraudulento do mundo das comunicacões, ao falsificador da Bíblia, ao defensor do aborto que expulsa demônios a chicotaços. Caluda! O homem de Deus rende votos não só à Dilma, mas também ao governador tucano.

O que espanta mesmo é ver um colunista da Folha de São Paulo, Elio Gaspari, se desmanchando em loas à culminação de uma monumental vigarice:

A Igreja Universal do Reino de Deus inaugurou em São Paulo seu Templo de Salomão. É uma construção monumental, capaz de receber 10 mil pessoas, o dobro da lotação da Basílica de Aparecida. Sua fachada tem 56 metros de altura, 13 metros mais que a de São Pedro, em Roma. Custou zero à Viúva e foi erguida com dinheiro da fé do povo.

O Templo de Salomão haverá de se tornar um símbolo da cidade e da fé dos brasileiros. Esse aspecto supera as tramoias administrativas praticadas na sua construção. (O templo foi erguido como se fosse apenas a reforma de uma edificação demolida.) A fé dos evangélicos costuma ser depreciada, como se fosse produto da ingenuidade do andar de baixo.

É pura demofobia.

As denominações evangélicas expandiram-se associando fé religiosa e autoestima a um sentido de comunidade. Há bispos evangélicos vigaristas, sem dúvida, mas até hoje o papa Francisco batalha para limpar a Cúria vaticana.

O padre Marcial Maciel, um pedófilo promíscuo, quindim da plutocracia mexicana e figura influente no pontificado de João Paulo 2º, não pode ser usado para discutir a espiritualidade dos seus fiéis. O bronze das magníficas colunas do baldaquim de São Pedro foram tiradas do Pantheon romano. A catedral da Cidade do México foi construída com as pedras coletadas na destruição do templo azteca de Tenochtitlán.

Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. O Templo de Salomão, como a Basílica de São Pedro e a Catedral do México, são símbolos da fé dos povos. Quem não consegue entender a fé alheia pode se habilitar a um pacote turístico de três dias em Gaza.


Que os baldaquins da basílica foram feitos com bronzes do Pantheon e que a Igreja Romana tem seu esplendor graças a pilhagens e falcatruas feitas através dos séculos, isto não é novidade. Gaspari só esqueceu de dizer que o território do Vaticano foi concessão de Benito Mussolini, através do Tratado de Latrão, que formalizou a existência de um Estado soberano, neutro e inviolável, sob a autoridade do papa. Ninguém gosta de lembrar hoje que o catoliciismo deve sua suntuosa sede ao fascismo.

Tampouco é verdade que tenha custado “zero à Viúva e foi erguida com dinheiro da fé do povo”. Os templos têm isenção de impostos, sem falar que o bispo bilionário economizou alguns trocados – uma micharia de 34 milhões de reais – fraudando alvarás. Sem falar que o templo não foi erguido exatamente com “dinheiro da fé do povo”, mas com dinheiro extorquido do povo, mediante a exp0loração da crendice popular.

Daí a história escabrosa do Vaticano justificar o fruto da laboriosa trajetória do bispo vai uma longa distância. É como ver petistas defendendo o caixa 2 – eufemismo para mensalão: se todos fazem... Espanta também observar que o jornalista só tenha assestado suas baterias contra a Igreja Católica quando quem está na berlinda é a igreja do bispo.

Só falta agora achar que é demofobia falar nos anos de cadeia cumpridos nos Estados Unidos pelo “apóstolo” Estevam Hernandes e pela “bispa” Sonia por entrarem nos Estados Unidos com uma bíblia recheada de dólares. Se há bispos vigaristas no Vaticano, nada obsta que haja em outras igrejas. Quanto a lei? Ora... a lei... – como dizia Getúlio Vargas.

Ou será que ainda ninguém mais lembra daquela vídeo que teve ampla circulação nas redes sociais, mostrando o Sumo Sacerdote ensinando como se tira dinheiro dos fiéis? Até a Globo parece ter esquecido. Seria oportuno apresentá-lo logo após a reunião de Edir com seus novos e ilustres acólitos.